terça-feira, 13 de outubro de 2015

Canções com história #6 - Rainha Santa de Alfredo Marceneiro


“Deus tornou-me rainha para me dar meios de fazer esmolas”

No canções com história de hoje, trago-vos Dona Isabel de Aragão, a nossa Rainha Santa Isabel ou simplesmente Rainha Santa.

  Isabel de Aragão, filha de Pedro III (O Grande), rei de Aragão e de D. Constância de Navarra, terá nascido por volta de 1270, na cidade de Saragoça. Detentora de uma enorme beleza, muitos príncipes se apresentavam a seu pai como pretendentes à mão de sua filha mas os pais escolheram D. Dinis, herdeiro do trono de Portugal, pois era o mais dotado de todos e o mais próximo.  
A 11 de Fevereiro de 1282, casa por procuração e mais tarde chega a Portugal para consumar o matrimónio na bela vila de Trancoso a 26 de junho desse ano. Nos primeiros tempos de casada acompanhava o marido nas suas deslocações pelo País e conquistava a simpatia do povo. Os Reis tiveram dois filhos: D. Constância (futura Rainha de Castela) e D. Afonso (herdeiro do trono de Portugal). 
  A bondade da rainha não tinha limites e apesar da relação com o marido não ser a melhor por este lhe ser infiel, perdoava-o sempre e acabou por criar também com muito carinho os seus filhos ilegítimos. 
  Considerada uma mulher cheia de devoção, bondade e humildade, buscou sempre a reconciliação e a paz entre as pessoas, as famílias e as nações. “Deus tornou-me rainha para me dar meios de fazer esmolas”, eram palavras da rainha e os seus actos, vestindo e alimentando os pobres e dedicando-se às obras religiosas. Após o falecimento de seu marido, em 1325, D. Isabel recolheu-se no Convento de Santa Clara-a-Velha, que ela havia fundado, em Coimbra.
  Em Junho de 1336, com 65 anos, partiu de Coimbra com destino ao Castelo de Estremoz, para apaziguar o conflito de seu filho, Afonso IV, com o genro devido aos maus tratos que este aplicava na esposa (D. Maria, filha de Afonso IV) pois previa-se uma nova guerra. Chega ao Castelo de Estremoz, cansada e cheia de febre. Morre passados alguns dias, afectada pela peste, a de 4 de Julho de 1336, deixando um exemplo de vida e devoção. 
  Após falecer, e tendo deixado escrito em testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, foi levada para Coimbra. Reza a lenda que ao longo de todo o percurso os seu corpo nunca deitou mau cheiro e no ar se sentia um cheiro perfumado de rosas. 
  Foi criada à sua volta uma lenda de santidade, devido aos diversos milagres atribuídos. Foi Beatificada em 1516, pelo Papa Leão X e canonizada a Santa, pelo Papa Urbano VIII, em 1625, ficando popularmente conhecida como Rainha Santa. É padroeira da cidade de Coimbra e o feriado municipal coincide com o 4 de Julho. 
  D. Isabel é a rainha mais querida pelo povo e são inúmeras as homenagens, festas e dedicatórias que lhe são atribuídas. Exemplo disso é o fado que vos trago.

“RAINHA SANTA”



Não sabes Tricana linda
Porque chora quando canta
O rouxinol no choupal
É porque ele chora ainda
P'la Rainha mais Santa
Das Santas de Portugal

Rainha, que mais reinou
Nos corações da pobreza
Que no faustoso paço
Milagreira portuguesa
Que no seu alvo regaço
Pão em rosas transformou

E as lindas rosas geradas
Por um milagre fremente
Que a Santa Rainha fez
Viverão acarinhadas
Com amor eternamente
No coração português

Santa Isabel, se algum dia
Seu nome de eras famosas
Fosse esquecido afinal,
Outro milagre faria
De nunca mais haver rosas
Nos jardins de Portugal.


Letra de Henrique Rêgo e música do fadista Alfredo Marceneiro, Rainha Santa é um fado que o próprio lhe dedicou e interpretou. 
Alfredo Marceneiro (29 de fevereiro de 1888 – 26 de junho de 1982) é outro personagem histórico do nosso panorama nacional que vai merecer destaque aqui no blogue. Irei dedicar uma mensagem só a ele, como merece. Grande fadista, compositor e vaidoso lisboeta viveu o fado e deixou-nos um grande legado como os considerados Fados Tradicionais.

Espero que gostem e fico à espera de sugestões!


domingo, 11 de outubro de 2015

Opinião - O que é o quê de Dave Aggers

Este livro é o relato emotivo da minha vida: desde a altura em que fui separado da minha família em Marial Bai, abarcando os treze anos que passei em campos de refugiados etíopes e quenianos, até ao meu encontro com a cultura ocidental.
Era apenas um rapaz quando a guerra civil sudanesa começou, uma guerra que matou dois milhões e meio de pessoas. Sobrevivi atravessando muitas paisagens rigorosas ao mesmo tempo que era bombardeado pelas forças aéreas sudanesas, me esquivava a minas terrestres, era perseguido por animais selvagens e assassinos humanos. Alimentava-me do que colhia e, durante dias seguidos, não comi nada. As dificuldades eram insuportáveis. Tentei tirar a minha própria vida. Muitos dos meus amigos e milhares dos meus conterrâneos não sobreviveram a estas tribulações.
Este livro nasceu do desejo por parte do autor e meu de estender a mão a outros e ajudá-los a compreender as atrocidades que os governos do Sudão cometeram antes e durante a guerra civil. Com esse objectivo contei a minha história ao autor. Ele engendrou então este romance, aproximando a voz do narrador da minha própria voz e usando os acontecimentos da minha vida como base. Uma vez que muitas das passagens são ficcionais, o resultado toma o nome de romance.
Valentino Achak Deng

Esta é a história de Valentino Achak Deng, que como muitos africanos para fugir à morte e em busca de sonhos fazem viagens inimagináveis.

Sinopse:
Esta é a história da extraordinária capacidade de um rapaz para suportar atrocidade atrás de atrocidade e ainda assim recusar-se a abandonar a decência, a amabilidade e a esperança de encontrar um lar e uma vida digna.


“O que quer que faça, seja como for que encontre uma forma de viver, contarei estas histórias. Falei com cada pessoa que encontrei nestes últimos e difíceis dias e com cada pessoa que entrou neste clube durante estas terríveis horas matutinas, porque fazer outra coisa que não isto seria algo menos que humano. Falo com estas pessoas e falo consigo porque não consigo evitá-lo. Dá-me força, uma força quase inacreditável, saber que está aí. Cobiço os seus olhos, os seus ouvidos, o espaço entre nós. Como somos abençoados por nos termos um ao outro! Eu estou vivo e você está vivo, por isso temos de encher o ar com as nossas palavras. Fá-lo-ei hoje, amanhã, cada dia que Deus me leve até ele. Contarei histórias que outras pessoas escutarão e a pessoas que não querem escutar, a pessoas que me procuram e àquelas que fogem de mim. E durante todo esse tempo saberei que está aí. Como posso fazer de conta que não existe? Seria quase tão impossível como você fazer de conta que eu não existo.”

Começo por utilizar as últimas palavras deste livro, por resumirem de uma forma quase poética o essencial deste e de outros livros, que é contar histórias. Dar-nos a conhecer outras culturas, outros lugares e outros pontos de vista.
Este traz-nos o ponto de vista de um sudanês adulto refugiado nos EUA, sobre o choque cultural e das dificuldades de integração na nova sociedade. Mas a sua história começa muito antes, na sua infância com a perda dos seus pais, da sua aldeia e com a fuga para salvar a sua própria vida.
Numa altura em que somos bombardeados todos os dias na televisão e nas redes sociais com a questão dos refugiados, este e outros livros podem ajuda-nos a ter uma perspectiva do outro lado da história. E todos sabemos que para se fazerem boas escolhas temos de conseguir ver as duas partes. Por isso leiam e façam as vossas escolhas!

Opinião de Margarida Ribeiro.

Espero que tenham ficado tão entusiasmados para ler como eu. A Margarida tem-me falado de forma tão entusiasmada deste livro, que é impossível não ter vontade de ler. É uma edição de 2009 e penso que não será fácil encontrar, mas se o encontrarem apostem nele, pois trata-se uma história incrível e inspiradora e um tema bastante actual. É um romance porque tem algumas passagens ficcionais, mas baseia-se num relato verídico. É uma história que nos vai fazer pensar.

Boas leituras