sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Opinião - Para sempre Carcóvia de João Máximo

"(...) Era eu que estava ali, sentado a olhar. E pela primeira vez na minha vida eu sentia forças invisíveis, a elevar-me cada vez mais alto, até ultrapassar as montanhas, os montes e as colinas, até ultrapassar as cidades, as vilas, e as pequenas povoações, que via desaparecer aos poucos, debaixo de mim. Tudo ia ficando cada vez mais pequeno.(...)"

Sinopse:
Pequenas névoas espalhadas no céu. E um tipo de peugada assim, eu conheço… e só podia ser feito por aqueles bombardeiros que vinham desde a Heldenplatz, até aqui.
(senhora) – És alemão? Há muito tempo que não via um alemão por aqui.
(Kurt) – Não. Sou austríaco. Nasci na Áustria, que faz fronteira com a Alemanha.
(senhora) – Engraçado. Pensava que a Áustria fazia parte da Alemanha.
(Kurt) – Fez em tempos, sim. Mas agora já não.
(senhora) – Chamo-me Urszula. Prazer em conhecer-te.
(Kurt) – Percebo. E viveu sempre aqui? Do que vive ou o que é que faz aqui, se é que posso saber? É casada? Tem filhos? Os seus netos costumam vir vê-la?
(Úrsula) – Não, rapaz. Nunca me casei. Como me podia casar se não há aqui ninguém?
(Kurt) – Percebo. Mas está informada, certo? Tem televisão? Ou rádio? Lê jornais? Sabe o que se passa no mundo?
(Úrsula) – Vou sabendo o que se passa, pela televisão… Tenho-a há uns anos recentes, juntamente com o telefone e a luz. A vida desde a independência mudou por aqui, e para melhor, tirando a paisagem. Este lugar era ainda mais bonito antes da guerra.
(Kurt) – Ainda mais bonito? Este lugar é lindo, minha senhora. Olhe só para este céu, veja como é belo e espaçoso.
(Úrsula) – Sim. Não há um céu como este…

Opinião:
Mais do que um romance, este Para Sempre Carcóvia é um retrato poético de um lugar que marcou imenso o autor. Uma dedicatória de cerca de 500 páginas a um lugar especial. João Máximo leva-nos numa viagem até Kharkiv, Ucrânia.
A história centra-se na relação entre o avô Lenine e o seu neto Kurt com o conflito de gerações e as experiências porque passam, mas o mais interessante são as reflexões, memórias e descrições do autor.
Logo no inicio somos surpreendidos com uma escrita poética e muito cuidada que nos cativa. Depois ao longos da história temos diálogos ou reflexões sobre a sociedade, religião e passado histórico que nos fazem pensar também. Se juntarmos a isso factos históricos e um retrato de um local que passou por tantas transformações, temos mais do que razões suficientes para não largar este livro.
Gostei da forma como o João nos apresenta as personagens e da sua importância nos momentos mais marcantes, mas fiquei triste por uma, pois esperava mais do Taras. A minha personagem favorita sem dúvidas é Lenine, um homem de outro tempo e fiel aos seus valores, muito marcante. 
Também me impressionaram alguns factos históricos, como a guerra e os campos de trabalho forçados, algo que só imagino na 2ª Guerra Mundial mas que se passou há pouco mais de duas décadas. 
Por fim... Se o inicio o livro me deixou cheia de entusiasmo e sorriso feito, o final deixou-me totalmente arrebatada. Algo inesperado acontece e ao mesmo tempo algumas peças que perdi no meio da história entre tantas descrições e reflexões, encontram o seu lugar e tudo faz sentido.

Esta é uma obra que requer tempo, pois apesar da escrita cuidada e rica, a leitura nem sempre tem o ritmo que desejamos, temos de nos deixar embalar. É um livro que recomendo a todos.
João Máximo é um jovem cheio de talento, muito culto e viajado. Para sempre Carcóvia, lançado em 2013 é o seu primeiro livro e este ano lançou Não há aves em Sobibor, minha próxima leitura.

João Carlos Máximo nasceu em 1988, na localidade de Unhais da Serra, concelho da Covilhã.
Foi músico de Saxofone Alto e atleta federado. João Carlos Máximo é Licenciado em Ciências Biomédicas, pela Universidade do Algarve, desde 2009. Em 2012, foi finalista da iniciativa “O meu movimento – Não tenho que emigrar para me formar”, concurso promovido pelo Governo de Portugal.
Nestes últimos anos passou por vários países dos continentes Europeu, Africano e Asiático.
Hoje em dia, frequenta o curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade da Beira Interior, e é colaborador do Jornal “Correio de Unhais”, sendo o autor de uma crónica mensal, intitulada “O Mundo”.

Boas leituras!




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