quinta-feira, 21 de maio de 2015

Canções com história #5 - 7 e pico de Conjunto António Mafra

Para quem ainda não sabe, eu colaboro no jornal mensal da Banda Filarmónica da Erada com alguns artigos e Canções com História é um deles. Gosto tanto de fazê-lo que resolvi partilhar aqui no blogue.
A música é a minha grande paixão. Todo o tempo que dedico a ela é precioso e encontro sempre algumas histórias que acho que devem ser partilhadas. Espero que gostem


Maio já começa a ter cheiro e sabor a verão e com ele começam a aparecer os primeiros bailaricos de verão. Portugal é um país boémio e tudo serve de pretexto para fazer uma festa. Temos os festivais da sopa, do peixe, do enchido, do folclore, das filármónicas, dos santinhos e santinha... tudo e mais alguma coisa. E eu, desde que possa estou em todas! :)
A minha maior reclamação em relação às festas é a musica. O pseudo-kisomba-kuduro-forró e o raio que o parta, chateiam e na minha opinião estragaram os bailes todos. A malta mais velha não gosta de dançar essas "canções" e a restante só quer "kuduro" para fazer a tão famosa dança colectiva, o que torna as festa a nível musical muito chatas. Os grupos têm preguiça e cantam o que está na moda e estão a estragar tudo, malditos!

Ao longos dos últimos meses tenho redescoberto várias pérolas perdidas no tempo e hoje trago uma valsa que tenho a certeza que vos fará sorrir e viajar uns aninhos até às romarias de antigamente (note-se que o meu antigamente não vai além dos 20 anos :P)

Foi com grande alegria que recebi a notícia que Sebastião Antunes & Quadrilha estava de volta com um novo álbum de título “Proibido Adivinhar”
É um disco cheio de surpresas e com novas abordagens à música que sempre motivou a banda, a música de tradição portuguesa. Entre temas originais e versões de músicas trazidas pelo tempo através da tradição, a Quadrilha apresenta neste trabalho algumas composições que apesar de novas são representativas das influências que marcaram as várias fases do grupo. 
A Quadrilha começa nesse mesmo ano a dar concertos, que os levam a Festivais em Santiago de Compostela, França, Canadá e a inúmeros concertos em Portugal.

Uma das canções recriadas por este colectivo para o novo álbum (faixa 04) é bem conhecida por todos nós, pois faz parte do nosso cancioneiro tradicional. É uma valsinha muito catita que caia muito bem logo  a seguir à valsa da meia noite. Aquela que nunca é tocada a horas!

 Impossível não sorrir, cantarolar e viajar até ao Baile da Dona Ester.


Sete e pico 

No Baile da Dona Ester
Feito a semana passada,
Foram dar com o Chauffer,
A dançar com a criada.
Dizia-lhe ela baixinho
Na prise és bestial.
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal. 

Chegou altura da valsa,
Exibiu-se o Osório.
De repente cai-lhe a calça,
Rebentou-lhe o suspensório.
Aflito, com as mãos nos bolsos,
Perante o riso geral.
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal.

A Dona Inês sequiosa,
Não resistiu ao Wisky.
E p'ra se tornar famosa,
Quis ir dançar o twisty.
Ao dar um jeito partiu-se,
A coluna vertebral,
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal.

O Dom José de Vicente,
Que é de S. Pedro da Cova.
Pra mostrar que ainda é valente,
Foi dançar a bossa nova.
Escorregou no soalho,
Caiu, foi pro hospital.
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal.

Quando o serviço abundante,
No baile se iniciou.
O Don Grilo num instante,
A alface devorou.
Diz-lhe a Locas ao ouvido,
Pareces um animal.
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal.

Faltou a luz e gerou-se,
A confusão natural.
E a Locas encontrou-se,
Nos braços do Amaral.
Logo esta grita aflita,
Acendam o castiçal.
Eram pr´aí sete e pico, 
Oito e coisa nove e tal… 

Este Sete e pico é um original do Conjunto António Mafra, um grupo de música popular portuguesa que atingiu uma popularidade verdadeiramente notável nos mais de cinquenta anos em que já vai a sua existência, com inúmeros sucessos, nos mais de oitenta discos que já gravaram. 
Liderada inicialmente por António Mafra, (autor desta famosíssima valsa) esta banda portuense nasceu há cerca de cinquenta anos no coração do Porto, junto à Torre dos Clérigos, numa pequena taberna, numa noite de S. João. 
O grupo foi crescendo e amadurecendo como o vinho num ambiente sempre bem disposto e boémio. Temas como 
Vinho da Clarinha, O carteiro, Arrebita, arrebita, arrebita.e este “baile da D.Ester” fazem parte dos grandes êxitos da banda que os levaram a correr aldeias e vilas, partilhando a alegria da música do povo. Com eles, viajaram também as marchas, os viras e as chulas, além fronteiras. 
Mais tarde António Mafra morre perdendo-se assim um talento nato na criação de cantigas, dedilhando a guitarra. 
Resistiram à perda e mais tarde voltaram a pisar os palcos e a gravar. 
A sua extensa carreira consta já com cerca de oitenta discos e sem dúvida que Portugal já lhe e deve muito pela sua dedicação capacidade de animar e criar. 

Nota:
Este é um Canções com História mais “fraquinho”. 
Gostava de partilhar mais informação sobre o grupo mas a informação na net é muito pouca. Gostava de saber por exemplo o que é feito do grupo ou dos membros. Acredito que já tenham uma certa idade e já não animem os bailes de São João, mas gostava muito de saber.

Se tiverem informação partilhem comigo!! 

Daqui a uns dias volto com uma nova canção e com um texto melhor, prometo. Por mim falava sempre das canções da Quadrilha, gosto muito das suas recriações e os originais e tem sido uma agradável descoberta, o seu cancioneiro.
A versão de 7 e pico do seu novo album ainda não está disponível, então partilho Comboio dos Atrasos, espero que gostem. 


Fiquem bem e oiçam mais música portuguesa

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